De acordo com a socióloga e activista norte-americana Gayle Rubin, apenas
uma prática sexual foi inventada no século XX. E mesmo essa já na ida década de
1930 – o eroticismo braquiopróctico (também conhecido como fisting ou fist fucking, a inserção do
punho e parte do braço no ânus). Tudo o resto já tinha sido descrito, e
certamente praticado, por gente extravagante como Sade, Sacher-Mashoch, para
não falar dos loucos Romanos antigos.
Talvez para choque de muitos, o sexo efectivamente não mudou muito em
milhares de anos. Toda a gente continua a fornicar como sempre fornicou, mais
orgasmo menos orgasmo, mais orifício menos orifício.
Assim sendo, o que podemos esperar que mude em cinco anos? Se é improvável
que se inventem novas práticas, o que poderá mudar são os contextos associados ao
sexo. E aí não devemos menosprezar o impacto da tecnologia. De facto, algo que
os Romanos antigos não faziam era marcar encontros com estranhos através da
Internet. O célebre Marquês nunca terá sido confrontado com uma parceira que
lhe tenha pedido os resultados do seu último teste para o VIH. E, por muito que
algumas raparigas possam ter tentado, é improvável que tenham conseguido provar
para lá de qualquer dúvida que Giacomo Casanova era o pai do seu bebé.
Então que novas tecnologias poderão estar disponíveis em cinco anos? Face à
incerteza de que a miraculosa vacina para o VIH venha a surgir, mais provável é
que outras estratégias preventivas sejam disponibilizadas. Algumas das que se
encontram em ensaios clínicos são a profilaxia pré-exposição ou PPrE e os
microbicidas. A PPrE é uma espécie de pílula contraceptiva, mas aplicada à
prevenção do VIH. Poderá ser utilizada por quem pensa estar frequentemente em
risco de contrair o VIH e será tomada de forma mais ou menos contínua para
prevenir a infecção.
O problema é que a sua eficácia será, na melhor das hipóteses, de cerca de
70% e a comunidade científica já está em alvoroço perante a possibilidade das
pessoas começarem a fazer amor, por assim dizer, descontroladamente. Os microbicidas levantam
questões semelhantes. Tratam-se de géis ou espumas que se colocam na vagina ou
ânus e que criam uma barreira química que destrói o vírus durante uma relação
sexual desprotegida.
É também possível que em breve os testes caseiros para o VIH surjam à venda
nas farmácias. Mesmo que contra-indicado, é provável que muita gente os utilize
para avaliar, no último minuto, se irão ou não ter sexo desprotegido com o
parceiro que acabaram de conhecer na Internet ou noutro canto obscuro qualquer.
Muitos mais brinquedos decerto nos ajudarão a ter uma vida sexual mais
feliz, segura e, espera-se, satisfatória. Muitos desses levantarão novas
questões, morais e moralistas, sociais e sociológicas. Mas tal como o sexo, essa
é outra realidade que não se alterou ao longo dos milénios.
Artigo futurista publicado na revista Pública dedicada ao ano de 2012 em 28/12/2008