sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Os metro, os retro e os gastro

Desde a sua gloriosa estreia em 1953 com Marilyn Monroe na capa, que a revista Playboy tem entretido gerações inteiras de muitos homens e algumas mulheres. Ao longo dos seus 56 felizes anos de vida, foi também acompanhando as tendências do que é considerado um corpo feminino atraente. Uma outra revista norte-americana, a Wired, no seu último número, decidiu analisar a evolução do índice de massa corporal das mulheres que fizeram capa da Playboy ao longo de todos estes anos e compará-la com a da média nacional norte-americana. Como esperado, enquanto que as coelhinhas da Playboy foram diminuindo de tamanho, as coelhonas das mulheres americanas foram aumentando.

Que a relação entre os padrões de beleza feminina e a realidade é profundamente esquizofrénica, já todos o sabíamos. Agora porém, começam os homens a sofrer de semelhante dilema. Quando uma nova geração de homens começou a preocupar-se com a sua imagem, recorrendo a produtos cosméticos, roupas de marca e ginásios com quase tanta frequência quanto as suas namoradas e esposas, percebeu-se que alguma coisa estava a acontecer no até então relativamente descomplicado mundo masculino. Nessa área, pelo menos! Assim nasciam os metrossexuais.

Entretanto, diz-se, apareceram os gastrossexuais, os homens que se aperfeiçoam nas artes culinárias para impressionar e conquistar um lugar no coração das suas amadas, via estômago.

Mais recentemente, alguma comunicação social norte-americana tem dedicado reportagens aos retrossexuais, a saber, os homens que estão determinados em manter a aparência (e por vezes a atitude) de “homens a sério”, seja lá isso o que for. Uma das suas características é, em particular, o orgulho pela sua pilosidade corporal, ao contrário da tendência de alguns metro em quase se depilarem da cabeça aos pés. Quase.

A retrossexualidade pode muito bem ser uma reacção, talvez exagerada, à metrossexualidade. Mas parece ao mesmo tempo indicar que os padrões de beleza masculinos são agora bastante mais fluidos do que eram no tempo dos retrossexuais de antigamente. Perguntam os homens: Como poderemos manter-nos actualizados com estas tendências sempre a mudar? E respondem as mulheres, com uma bem justificada ponta de sarcasmo: Pois é, meus caros, nós já o fazemos há muito tempo e pelo menos, a cada seis meses!

A igualdade entre homens e mulheres, que apesar de tudo, continua a ser um bonito ideal a alcançar e não ainda um facto consumado, trouxe muitas mais surpresas do que mulheres a usarem calças e homens a cuidarem de bebés. Acartou consigo todas estas novas exigências com as quais os homens têm agora que lidar. E assim regozijam-se as mulheres ao ver os homens a transformarem-se e já transformados em objectos sexuais.



Publicado na revista Pública de 08/02/2009

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O mês de Movembro

Em 1999, na encantadora mas perdida cidade de Adelaide, na Austrália, um grupo de homens teve uma ideia cabeluda. Entre uma cerveja e outra, alguém terá sugerido: “E se nós, gajos, deixássemos crescer o bigode, e usássemos isso para angariar umas massas para causas importantes para nós, gajos?”.

A ideia pegou que nem fogo num eucaliptal em dia de 48 graus centígrados. Em breve muitos começaram a deixar crescer buços, que foram dando lugar a maiores pilosidades supra-labiais, culminando em fartas bigodeiras de meter respeito a qualquer um.

Primeiro na Austrália, depois na vizinha Nova Zelândia, seguidas pelos EUA, Irlanda, Reino Unido e até aqui bem próximo, em Espanha, muitos homens começaram a deixar crescer o bigode no dia 1 de Novembro com o objectivo de “mudar o rosto da saúde dos homens”. Todos os anos organizam-se várias iniciativas que culminam numa gala no final do mês, em que os orgulhosos machos exibem as suas farfalhudas bigodaças. Com essas iniciativas recolhem fundos para combater o cancro da próstata e a depressão masculina.

O mês de Novembro nunca mais foi o mesmo. Até mudou de nome e passou chamar-se Movembro (movemberfoundation.com).

Verdade é que deixar crescer um bigode requer alguma coragem. Até porque tais pilosidades estão fora de moda. Agora usam-se barbas completas ou cara rapada. Um bigode é assim como que a bissexualidade do pêlo facial. É o meio caminho entre duas posições mais ou menos extremas e incompatíveis. Por isso também, deixar de barbear a zona imediatamente abaixo do nariz implica ter que lidar com as reacções dos outros. Oscilando entre o deslumbramento e a aversão, um bigode não deixa ninguém indiferente. Mais ainda as mulheres que ficam vulneráveis às cócegas proporcionadas pelo acto de beijar um homem de bigodes.


E, como se não bastasse, há algo de vagamente pornográfico num bigode, um dos acessórios básicos de qualquer actor de filmes porno dos anos 70 que se prezasse. Já para não mencionar o ternurento conceito de mustache ride (cavalgada de bigode) forma como por vezes se designa o cunilingus em países de expressão Inglesa. Em tal prática, não só a mulher está de facto a cavalgar num bigode, caso o cavalheiro o tenha, como o cavalheiro ficará com o seu aumentado ou ganhará um emprestado com as pilosidades íntimas da sua companheira. A regra é, claro, que o bigode não seja curto em demasia, sob o risco de arranhar mais do que estimular a pobre rapariga.


Mas seja enquanto novo e diferente brinquedo sexual, seja como meio original para combater males sem dúvida sérios e muitas vezes esquecidos, nada como um respeitável bigode. Que o digam alguns dos grandes ditadores do século XX que não passaram sem ele. É que, afinal, um bigode consegue mesmo marcar a diferença.


Publicado na Revista Pública, em 15/11/2009