domingo, 28 de julho de 2013

Andar por aí



Todos nós conhecemos pessoas que se queixam de não arranjar emprego, de não ter sorte, de não encontrar o amor da sua vida, de nunca lhes acontecer nada de especial ou que consideram a sua vida sentimental um aborrecimento de morte. Estas e outras queixas frequentemente encontram-se todas concentradas nas mesmas pessoas. Porém, também não é pouco frequente encontrar quem, apesar de uma vida profissional intensa e satisfatória e da posse de recursos económicos  para fazer o que bem entendem em casa, nos tempos livres ou nas férias, do ponto de vista amoroso tudo é uma desgraça.



É certo que nem todos conseguem ter o à-vontade para conhecer novas pessoas e por vezes tem-se mesmo azar com aquelas que se vão conhecendo. O mundo está cheio de pessoas indisponíveis, desequilibradas, inconstantes ou pura e simplesmente chatas. Mas também se encontram em abundância as que são interessantes, inteligentes, desimpedidas e cheias de talentos no quarto e na cozinha. Apenas há que encontrá-las, apesar de nem sempre o destino permitir que ocorram esses encontros.



Mas se isso é verdade, também o é que as tais pessoas que se queixam de nunca encontrar a paixão da sua vida muitas vezes não se esforçam minimamente para a encontrar. Ficam fechadas em casa a curtir as suas mágoas, não saem com os amigos nem vão para locais onde há gente e onde os tais  afortunados encontros podem ocorrer. Desse modo, certamente que será muito mais difícil conhecer alguém especial e apaixonar-se. O que significa que, mesmo para encontrar paixão, é necessário esforço e estar nos sítios certos, que podem ser quaisquer uns. Em suma, é necessário andar por aí. Quando menos se espera, no ginásio, na praia, na discoteca, no curso de computadores ou de Arraiolos, no centro comercial ou no comboio, tudo pode acontecer.



Mas nem sempre apenas isso basta. O princípio básico de qualquer vendedor aqui também é verdade: quanto melhor a técnica, melhor a venda. E se o produto que se quer vender é o próprio, então há que utilizar todos os recursos disponíveis. É certo que a aparência não é tudo e que, mais do que ser-se bonito por fora, é importante ser-se bonito por dentro. Mas, dito isto, também há que reconhecer que a primeira impressão é muito importante e pode determinar a ocorrência de uma chispa das que pode fazer fogo. 

Afirmar-se que se é feio também não é desculpa. Certo é que o dom da beleza não é concedido pela magia de uma fada madrinha, mas há sempre formas de contornar o que uma natureza madrasta nos concedeu com uns pozinhos de perlimpimpim. Os italianos são disso um ótimo exemplo e andar nas ruas de qualquer cidade italiana é sempre um banho de vista, mesmo quando os observados não são particularmente bonitos.



O resto é parte sorte, parte saber-fazer e parte de qualquer outra coisa que lamento informar, ninguém sabe muito bem o que é. Não existem receitas milagrosas para que as pessoas se conheçam e para que a paixão surja. Mas, quando surge, aí sim acontece magia digna dos contos de fada e a de alguns romances eróticos também.

Originalmente publicado na revista Activa em 2005