sexta-feira, 11 de junho de 2010

Prazer à mão de semear

O prazer sexual é das coisas mais democráticas que existe. Ao alcance da mão, qualquer pessoa pode ter o Nirvana, o êxtase supremo, o deleite imenso de um orgasmo explosivo. E tudo isso sem ter que se preocupar em encontrar um parceiro. Na intimidade de um chuveiro, no quentinho da cama, na casa de banho pública ou na sala de estar, disfarçadamente na praia ou descaradamente no transporte público, todas as pessoas podem gozar a sua sexualidade no que ela tem de melhor. A masturbação, prática perseguida e condenada ao longo das eras, parece finalmente ter encontrado o merecido descanso no alvor do século XXI.


Parte das culpas da danação indevida da masturbação podemos atirá-las para Onan. Ao ter relações sexuais com a mulher do falecido irmão, a bíblica personagem optou por praticar coito interrompido, “derramando a sua semente”, em vez de a aproveitar condignamente, engravidando a senhora sua cunhada, como mandava a tradição. Pelo seu atrevimento, sofreu de pena capital, directamente pela mão de Deus.


Pois bem, além da semente de Onan, muita tinta foi derramada a propósito de tal episódio. A religião aproveitou-se da marotice de Onan para condenar toda a prática, desde então também chamada de Onanismo, de desperdício de sémen, por ser contra a vontade do Senhor.


No século XIX, a esse propósito, desenvolveram-se os mais variados aparelhos, muitos deles de requintada maldade, para prevenir a masturbação (pensem em cintos de castidade masculinos revestidos na parte interior com picos, de forma a desencorajar toda e qualquer erecção nocturna). Defendia-se então, e infelizmente até há bem pouco tempo, que a masturbação era causa de todos os males e mais uns tantos. A lista é longa, mas os mais populares seriam a esterilidade, a disfunção eréctil, a cegueira, a queda de cabelo, as borbulhas, a tuberculose, não esquecendo os famosos pêlos nas palmas das mãos.


Tanto quanto se sabe nunca ninguém teve que pentear as suas palmas devido a um excesso de práticas auto-eróticas. Com devido louvor, a masturbação atravessou épocas mais conturbadas para hoje ser uma actividade sobre a qual praticamente nem se fala. Toda a gente (ou quase) a pratica, sem se preocupar muito com isso. Ou pelo menos assim se espera.


Se ainda há quem se culpabilize devido aos seus privados vícios, será por distracção ou indevido esclarecimento. A ciência moderna demonstrou finalmente que nenhum mal viria a quem quer que seja por se masturbar. Sabemos que essa é, de resto, uma forma saudável de explorar a sexualidade, em particular quando se é adolescente. Para os adultos, é o ‘faça você mesmo’ do sexo, especialmente quando se está com excitação a mais e parceiros a menos.


Afinal, porquê passar fome quando o pão está no regaço?

 
Originalmente publicado na Pública de 08/06/2008

1 comentário:

  1. Excelente artigo, parabéns, adorei
    Contudo acho que o sexo é uma comunhão de prazeres a dois, infelizmente situações levam a prazer solitário

    Ana

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