sábado, 21 de agosto de 2010

Estupidez emocional

A inteligência emocional, a par da auto-estima, da assertividade e da resiliência, é daqueles conceitos provenientes da Psicologia que acabou por se tornar famoso e por ser integrado na linguagem comum. Para quem não sabe o que é, a inteligência emocional relaciona-se com a capacidade, que idealmente todos deveríamos ter, de lidar com as nossas emoções de um modo saudável e produtivo.

Pessoas emocionalmente inteligentes deverão ser capazes de reconhecer as suas emoções, de se aperceber e de respeitar as das outras pessoas, além de as utilizar como bons guias de conduta. Porém, o que acontece com muita frequência é que as pessoas têm dificuldade em gerir as suas emoções. Deixam-se levar pelo calor do momento ou ficam toldadas no seu juízo, acabando por fazer coisas que lhes são prejudiciais, naquilo que muito bem poderia ser chamado de estupidez emocional.

Ao nível profissional esta incapacidade de lidar com as emoções pode levar a escolhas pouco acertadas e a criar situações de conflito com colegas e chefias. Ao nível familiar pode ser causa de discussões, de faltas de diálogo e de ressentimentos que duram toda uma vida. Como se tudo isso não bastasse, no que respeita à vida amorosa, tais condicionalismos emocionais levam muitas pessoas a envolverem-se com outras que, provavelmente, não são as mais indicadas para elas ou que pelo menos não o são naquele momento.

E não o são porque mantêm outras relações e não estão dispostas a abdicar das mesmas, mesmo que digam que o irão fazer no futuro. Porque humilham e agridem verbal e fisicamente. Porque têm interesses ou formas de estar na vida de tal forma diferentes que se tornam irreconciliáveis numa relação a dois. Porque, enfim, não estão dispostas a assumir um compromisso e preferem manter uma “amizade colorida” quando não é esse o desejo da outra pessoa envolvida.

Nestas, como em muitas outras situações, existe quem se mantenha infeliz ou pelo menos não completamente satisfeita na relação, ainda que sempre na expectativa de que as coisas melhorem. Na maioria dos casos, isso nunca chega a acontecer. Ainda que as relações não estejam de acordo com os desejos de uma das partes, acaba-se por ir vivendo com a situação tal como ela é, muitas vezes por comodismo, mas também por medo de ficar só.

Tudo isto não significa que as pessoas escolham conscientemente relações pouco gratificantes. Quantos de nós já não se apaixonaram sem ser correspondidos sabendo, à partida, que qualquer possibilidade de uma relação se encontrava fora de questão? Felizmente não somos máquinas e, por esse motivo, não controlamos as nossas emoções que por vezes nos pregam partidas. Faz parte da experiência de estar vivo não saber que rasteira os nossos desejos e vontades nos irão passar e para que estranhas paragens nos irão levar as nossas emoções.

A grande questão é: se nos fosse dado a escolher, será que as coisas seriam diferentes? Teriamos o descernimento de optar pelas pessoas e pelas situações que nos poderiam fazer felizes? Enveredariamos pelos caminhos mais apropriados para o nosso coração? Estas são questões que permanecem em aberto.

Porém, tenho a ideia de que as respostas não são tão simples quanto poderão parecer à partida. Ou seja, não sei se algumas pessoas, quando confrontadas com tal possibilidade de escolha, optariam pela melhor alternativa. Até porque, em alguns casos, o sofrimento também pode ser uma forma de estar na vida que serve de motor, de alimento e de alento. Será que se escolhe sofrer? Já dizia o poeta que o amor tem razões que a razão desconhece.

Publicado na Revista Activa em 2002

1 comentário:

  1. Sou um atento leitor do seu blog, e o texto que escreveu é muito interessante, muito haveria por dizer, mas resignando-me à perspectiva de um simples ser humano diria em resposta(derivado de uma projecção), os outros são o nosso espelho, e por vezes, existe sempre aquela barriguinha ou parte que não queremos ver, mas que o espelho mostra ("escolheremos então as pessoas?"). Bom de certa forma, mas é bom ter a noção da realidade que nos é dada pelos outros(espelho).
    Peço mil perdões pela anarquia da minha escrita, mas escrevo com os insights que vou tendo após a leitura. Penso devéras que a construção de algo mais profundo passa por este tipo de processos, de aprendizagens, de imaginação e vivência...enfim e em suma, o mundo é belo ou é feio na medida em que nós o vemos e nos é dado..

    Pedro Aniceto

    ResponderEliminar