sábado, 9 de outubro de 2010

Libido a zeros



Já alguma vez imaginou a sua vida sem aquela coisa meia chata meia fabulosa do sexo? Já pensou como seria um descanso por um lado mas uma grande chatice por outro andar por aí livre de interesses pouco católicos por certas pessoas? Pois bem, ainda que nunca tenha tido essa sorte ou esse azar, certo é que existem pessoas que dizem ser assim: assexuais.

Os assexuais reclamam uma ausência de interesse sexual, uma energia libidinal zero que os deixa indiferentes face aos prazeres da carne. Mais, consideram a assexualidade, por oposição ao celibato, como uma orientação sexual e não como uma opção. Quer isso dizer que se consideram como a quarta via alternativa à hetero, à homo e à bissexualidade. O que não deixa de ser interessante, uma vez que estaremos perante a ausência completa, ou coisa assim, de desejo. Se não há desejo, ele não se pode orientar ou, como por vezes acontece, desorientar-se.

Que fique claro que é possível que existam pessoas cuja libido seja nula. A diversidade humana permite que se encontre todo o espectro de intensidade do desejo sexual, desde aquelas pessoas que necessitam de alguma forma de titilação oito vezes por dia, até às que podem passar meses a fio sem se lembrar que o equipamento lá de baixo pode ter diversas utilidades além do alívio da pressão na bexiga. Para estas estar perante a Angelina Joli ou o Brad Pitt, ou mesmo perante os dois ao mesmo tempo com ar meloso a convidarem-nas para um ménage à trois, nem as aquece nem arrefece.

Certo é que a assexualidade é um dos fenómenos que põe em causa a noção de normalidade sexual. Se, num extremo, as pessoas que procuram sexo de forma um tanto desenfreada, ao ponto de afectar o seu bem-estar familiar, profissional e financeiro, arriscam-se levar o rótulo de compulsivos sexuais, no outro extremo temos este grupo de pessoas que defendem o seu direito à diferença pela ausência de libido.

Um dos motivos que levou à criação de um movimento de assexuais (ver, por exemplo, asexuality.org), foi o facto de muitas vezes esses indivíduos serem incompreendidos pelos outros. Não deve ser fácil assumir-se como imune às tentações mundanas num mundo tão carregado das mesmas.

É que, apesar de ainda termos dificuldade em lidar com a sexualidade em termos globais, é curioso que também nos seja difícil confrontarmo-nos com a sua ausência. Na nossa necessidade de colocar pessoas em caixinhas muito bem arrumadas na nossa cabeca, quando alguém reclama estar para lá de caixas a nossa tentação é correr para o Ikea para encontrar uma que seja suficientemente grande para lá a encaixar. A assexualidade, enquanto categoria, de alguma forma vem dar resposta a essa necessidade, tornando-se no lar para esse amaldiçoado ou talvez abencoado estado de zen sexual.

Publicado na revista Pública a 25/01/2009

1 comentário:

  1. Excelente!!!
    Mas será necessária essa organização? O respeito mútuo é, em meu entender, mt mais importante. Para quê os rótulos?
    Quando lecciono estes conteúdos aos meus alunos do 5º-6º ano, limito-me a promover a discussão e a tentar conduzi-los à conclusão da importância das diferenças neste nosso mundo. Em concomitância, o respeito pelas mesmas.
    Quando com eles brinco, digo sempre: "Deixas de conversar com o teu namorado ou namorada sff?"
    Abraço.

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