segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Período Monstrual

“Fico como um monstro, absolutamente insuportável, para mim própria e para os outros”. É desta forma que Anabela, uma secretária de 28 anos, descreve o seu estado de espírito nos dias que antecedem o aparecimento da sua menstruação.

A Anabela sofre de tensão pré-menstrual, também conhecida por TPM, caracterizada por um conjunto de sintomas físicos e psicológicos, na sua maioria desagradáveis, que surgem habitualmente nos dias imediatamente anteriores à menstruação e que podem perdurar ainda nos primeiros dias desta. Estes sintomas podem ser muito diversos. Na verdade, podem ser quase qualquer coisa! A investigação científica sobre este assunto já identificou cerca de 150 tipos de sintomas diferentes, dos quais os mais comuns são dores de barriga, fadiga, depressão, irritabilidade e baixa auto-estima, além dos ataques de choro, das insónias, da tensão mamária, das dificuldades de concentração e das alterações do apetite, entre muitos outros.

Porém, será que a Anabela sofre mesmo de tensão pré-menstrual? Não, de acordo com algumas feministas e também de acordo com certos especialistas. Para as primeiras, a TPM apenas serve para as mulheres se desculparem de problemas que não têm nada a ver com a menstruação ou, pior, para evitarem fazer o que não têm vontade de fazer, como seja trabalhar, cozinhar, aturar as crianças ou o marido, a título de exemplo.

Certamente que se pode colocar a questão: mas será que as feministas não sofrem de TPM? Acontece que a sua posição é mais política do que médica ou pessoal: defender que as mulheres têm uma particularidade que as incapacita durante certos períodos de tempo, por pequenos que sejam, é assumir que de facto são inferiores aos homens, o que constitui um excelente argumento para a discriminação que caracteriza a sociedade machista em que vivemos.

Do ponto de vista dos especialistas, a questão coloca-se porque a TPM não ocorre em todas as mulheres (apenas em 19% de acordo com um recente estudo norte-americano) e de, como já foi mencionado, manifesta-se através de sintomas muito diferentes, sendo quase impossível defini-la com precisão. Se é algo de assim tão vago e indeterminado, de acordo com alguns especialistas, dificilmente pode ser considerada como uma perturbação digna de tal designação.

Apesar de todas estas contestações, a TPM não deixa de afligir muitas mulheres que volta e meia estão... bem, como monstros, nas palavras da Anabela. As feministas e os tais especialistas bem podem acusá-las de estarem a atirar com as culpas das suas maleitas para cima da menstruação, mas o certo é que algumas de facto não se sentem da melhor forma naquela altura do mês.

É que, quer se queira, quer não, este acaba por ser mais um bom exemplo, a par do aborto, de como o corpo feminino é terreno privilegiado para batalhas e contestações que têm tanto de político quanto de ideológico e, em qualquer dos casos, muito pouco de benéfico para as próprias mulheres.

Publicado na Revista Activa em 2005

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