sábado, 2 de abril de 2011

Desplantes mamários


Enquanto que nos países ocidentais certas mulheres gastam milhares em cirurgias para espevitar as suas mamocas, em algumas tribos da Papua Nova Guiné outras orgulham-se dos seus seios que apontam para o chão. Para estas, os peitos rechonchos de que tanto gostam mulheres e homens ocidentais são um sinal de imaturidade e motivo de desdém. Afinal, é habitualmente depois das primeiras amamentações que os seios iniciam o seu dramático percurso descendente.

De acordo com Desmond Morris, existe a ideia de que a função principal dos seios será a láctea, o que tornaria o interesse dos homens por eles infantil. Porém, para o famoso especialista Britânico, apenas um terço dos tecidos mamários cumpre essa função. Logo o formato hemisférico dos seios humanos (sic) cumprirá outra importante função: a da diferenciação sexual. Por arrastamento, conclui, a ocultação dos seios nas mulheres equivale ao corte da barba dos homens.

Esquece-se Morris que, enquanto que para os homens fazer ou não a barba pela manhã é uma opção corriqueira, uma mulher que decida ir de peito ao léu para a rua depressa chamará muita atenção, da boa e da má. 

De facto, no Ocidente, às custas de tanto esconder essa parte do corpo, transformou-se um banal pedaço da anatomia feminina num símbolo erótico. E, por arrastamento, vários impérios comerciais se aconchegaram em seu redor. Além da já mencionada cirurgia plástica, exemplos óbvios são o de revistas como a Playboy, ou a indústria da lingerie. É que, já que o soutien, assim como a cuequinha, é o que nos separa do estado de macaco nu, a roupa interior tornou-se num dos mais valorizados acessórios da moda contemporânea. Que o diga Calvin Klein.

Assim, apesar de queimados e requeimados nos anos 60, real e simbolicamente, por feministas cansadas da opressão, da delas e da das suas mamas, os soutiens não perderam a sua popularidade. Mas se essas mulheres consideravam tal peça de vestuário um símbolo da repressão masculina, então pobres das suas avós que tinham que utilizar os muito mais opressivos espartilhos. Tão opressivos que não as deixavam respirar.

Entretanto, para a felicidade mamária de muitas mulheres, o peito feminino foi-se libertando, acabando por explodir em topless descomplexados nas praias dos anos 80, assim como nas passerelles dos anos 90.

Mas, ainda assim, a mama mantém o seu potencial erótico. Dirão psicanalistas de ideias fixas que tal se deve à relação íntima que todos estabelecemos com o fofo e fecundo órgão em muito tenras idades. É difícil determinar se isso explica a obsessão peitoral de muita gente. Certo é que elas andam por aí, redondas ou pontiagudas, espevitadas ou descaídas, de fabrico ou fabricadas e, de uma forma ou de outra, é impossível ignorá-las.

Publicado na revista Pública a 09/08/2009

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