segunda-feira, 30 de abril de 2012

Chupões, para que vos quero



O chupão é um sinal indiscutível de recente atividade, amorosa ou outra. Carimbados para lá de qualquer dúvida, uns reagirão com horror, ponderando o suicídio como única alternativa à humilhação pública de que certamente serão alvo, enquanto que outros exibirão com orgulho a sua marca às massas. Mas nem todos terão a descontracção da defunta Winehouse que, em pleno concerto em Lisboa há uns anos atrás, exibia uma marca no pescoço que não terá sido lá colocada pelo marido, então a cumprir pena de prisão algures em terras de sua majestade.

O dilema provocado por um chupão é sem dúvida mais marcante no pino do Verão, em que os 35 graus de temperatura irão ser causa de morte certa por desidratação, caso se opte por usar gola alta ou cachecol para ocultar a evidência. A alternativa é expor o pescoço em toda a sua glória, tornando óbvia a recente lícita ou ilícita atividade.

Por muito que algumas pessoas insistam no romantismo de tal ato, aquilo que ocorre quando alguém coloca um beijo bem repuxado no corpo de alguém não tem nada de lírico. Dá-se a ruptura dos vasos sanguíneos sob a pele da vítima, provocando a característica marca roxa, tecnicamente um hematoma, que pode demorar entre quatro e doze dias a desaparecer, dependendo do tipo de pele da pessoa.

Presume-se que para alguns se trate de uma espécie de marca territorial. Uma mensagem ao jeito de “Mariana esteve aqui” ou “Propriedade de Joaquim”, proporcionando, a quem marca, um orgulho retorcido por ser dono e senhor de outra criatura, ainda que por uns breves dias apenas. Por sua vez os marcados, ao olharem-se ao espelho sentirão, talvez, um calor no coração e pensarão “Ele realmente gosta de mim” ou “Ela é mesmo uma grande tarada”. Ele há gente para tudo.

Para evitar problemas, nada como usar de alguma etiqueta e bom senso, também em tal descabido ato. Os chupões em zonas escondidas, como seios, costas ou nádegas, podem ser colocados à discrição do perpetrador, sem para tal precisar de autorização. Aqueles plantados em zonas semi-escondidas, como na base do pescoço ou nos braços, poderão ser realizados com permissão implícita do seu recipiente. A ausência de uma sapatada no decorrer do repenico será sinal suficiente de aprovação. Para áreas expostas, como as zonas altas do pescoço ou a testa, deverão apenas e em exclusivo os chupões ser depositados com permissão explícita ou quando se conhece a pessoa suficientemente bem para saber que a marca não irá levar ao seu despedimento ou, pior ainda, ao final da relação.

Se, por sua vez, identificar uma marca suspeita no pescoço de alguém, por favor evite apontar com o dedo e rir alarvemente na cara da pessoa. Afinal, a inveja é uma coisa muito feia. 

Publicado na revista Pública a 17/05/2009

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