De todos os comportamentos de que o ser humano é capaz, a sedução, a corte e o namoro encontram-se decerto entre os mais
bizarros. Afinal, se o fim é simples e mais ou menos anunciado – o sexo – porque desperdiçar tanto tempo e
energia? Não seria mais fácil passar direto ao ato, sem nove-horas ou elaborados rituais de acasalamento?
Pois bem, parece que não. Apesar de estranho, o ato de namorar é um dos
passatempos preferidos do bicho humano. São horas passadas de mão dada em conversas
sobre tudo e sobre nada; são momentos de êxtase no quentinho da cama ou no refrescante chão da sala; são eternidades a fazer olhos de carneiro malmorto para aquelezinho especial, centro do nosso universo e motivo de suspiros repenicados.
Seres gregários que somos, gostamos de estar na companhia de
outras pessoas. E não por acaso. Afinal, nascemos no seio de relações e sem elas não sobrevivemos. Mesmo. Não só as
crianças nascem tão imaturas que, deixadas aos seus cuidados, não conseguiriam
sobreviver, como é na relação com outras pessoas que se estabelece o gérmen e o
substrato de tudo aquilo que irá ser a nossa vida psicológica e emocional.
Não admira, portanto, que seja em relações que encontramos a
nossa felicidade, assim como muitas vezes a nossa miséria. É como se, para
todo o sempre, procurássemos encontrar de novo o êxtase da relação perfeita, ou às vezes por lá próximo, que tivemos com quem cuidou de nós quando não
éramos mais do que uma promessa de gente. Atiramo-nos e cabeça e deixamo-nos
enredar na emoção, tão grande que não se controla e que nos deixa com os circuitos avariados. E com uma fome voraz de estar não importa onde,
desde que na companhia da tal pessoa que não tem nada de especial, excepto
que é a mais especial para nós.
O namoro é assim uma espécie de banquete. A única forma de
controlar a fome da paixão, saciada na anulação do espaço físico entre os amantes. Existirá, afinal, coisa melhor?
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