Malhando para dentro, peneirando para fora. Muito apropriada
a forma como há quatro mil anos um escritor Judeu descreveu o popular mas
básico método contraceptivo, hoje mais conhecido pelo nome de coito interrompido.
Apesar de coisa assim já antiga, pensa-se que essa inventiva estratégia tenha sido
responsável pela redução da natalidade na Europa nos séculos XVIII e XIX. Nessa
altura uma mudança de mentalidades permitiu que se começasse a ponderar ser possível
ao Homem controlar o seu corpo de formas até então impensáveis.
Actualmente o coito interrompido é altamente popular na
pornografia, em que nenhuma cena é considerada concluída sem que o viril
protagonista se desencaixe da sua heroína (ou heroi) para terminar a sua prazenteira tarefa
pela sua própria mão. E assim em algumas paragens ganha esse método os ilustrativos
nomes de “banho de emersão” e “lambuzadela”.
Como método contraceptivo é um flop. A sua taxa de
sucesso ronda os 80%, muito abaixo da pílula ou do preservativo, respectivamente próximos dos 99
e dos 97%. O que nunca impediu que muitos casais o preferissem
por motivos religiosos, pessoais ou de falta de melhor método disponível. Afinal
o coitus interruptus fornece a alternativa fácil e barata na ausência de
opções de maior eficácia.
Como afirma o muito respeitável Manual de Planeamento
Familiar para Médicos (APF, 1988), esse método tem a vantagem de não requerer
supervisão profissional, não é esquecido em casa quando o casal vai de férias,
não é tributado e não causa alterações menstruais ou ganho de peso. Além disso,
não pode ser ocasionalmente encontrado e degustado pelas crianças, como acontece com os
preservativos, tantas vezes confundidos com pastilhas elásticas.
Hoje em dia o coito interrompido continua a ser a primeira opção
contraceptiva de cerca de 3% das mulheres em idade fértil em todo o mundo. A
Albânia, por algum motivo obscuro, é de longe o país onde mais se utiliza esse
método (67,1% das mulheres em idade fértil). É um tanto da ordem do incompreensível a preferência das
Albanesas. É que além de falível, é um método que requer uma boa dose de
auto-controlo por parte do homem. E, convenhamos, muitos não conseguem
interromper uma sessão de acrobacias eróticas só para “deitar fora o melhor”, outro
nome afectuoso pelo qual é conhecido tal método. Como se não bastasse, o
desmancha-prazeres não previne doenças.
Apesar dos inconvenientes e da forte concorrência, o coito
interrompido continua a ser um sucesso de vendas sem o ser. Oferece a solução low-tech
e low-cost para momentos em que a necessidade se sobrepõe à racionalidade, mesmo pondo
em causa os princípios básicos da prevenção. Mas desde o tempo de Onan que as
pessoas tomam decisões irracionais a propósito do sexo. E isso parece que tão
depressa não mudará.
Publicado originalmente na revista Pública em Setembro de 2009
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