sexta-feira, 3 de maio de 2013

Coito, interrompido




Malhando para dentro, peneirando para fora. Muito apropriada a forma como há quatro mil anos um escritor Judeu descreveu o popular mas básico método contraceptivo, hoje mais conhecido pelo nome de coito interrompido. Apesar de coisa assim já antiga, pensa-se que essa inventiva estratégia tenha sido responsável pela redução da natalidade na Europa nos séculos XVIII e XIX. Nessa altura uma mudança de mentalidades permitiu que se começasse a ponderar ser possível ao Homem controlar o seu corpo de formas até então impensáveis. 

Actualmente o coito interrompido é altamente popular na pornografia, em que nenhuma cena é considerada concluída sem que o viril protagonista se desencaixe da sua heroína (ou heroi) para terminar a sua prazenteira tarefa pela sua própria mão. E assim em algumas paragens ganha esse método os ilustrativos nomes de “banho de emersão” e “lambuzadela”.

Como método contraceptivo é um flop. A sua taxa de sucesso ronda os 80%, muito abaixo da pílula ou do preservativo, respectivamente próximos dos 99 e dos 97%. O que nunca impediu que muitos casais o preferissem por motivos religiosos, pessoais ou de falta de melhor método disponível. Afinal o coitus interruptus fornece a alternativa fácil e barata na ausência de opções de maior eficácia. 

Como afirma o muito respeitável Manual de Planeamento Familiar para Médicos (APF, 1988), esse método tem a vantagem de não requerer supervisão profissional, não é esquecido em casa quando o casal vai de férias, não é tributado e não causa alterações menstruais ou ganho de peso. Além disso, não pode ser ocasionalmente encontrado e degustado pelas crianças, como acontece com os preservativos, tantas vezes confundidos com pastilhas elásticas.

Hoje em dia o coito interrompido continua a ser a primeira opção contraceptiva de cerca de 3% das mulheres em idade fértil em todo o mundo. A Albânia, por algum motivo obscuro, é de longe o país onde mais se utiliza esse método (67,1% das mulheres em idade fértil). É um tanto da ordem do incompreensível a preferência das Albanesas. É que além de falível, é um método que requer uma boa dose de auto-controlo por parte do homem. E, convenhamos, muitos não conseguem interromper uma sessão de acrobacias eróticas só para “deitar fora o melhor”, outro nome afectuoso pelo qual é conhecido tal método. Como se não bastasse, o desmancha-prazeres não previne doenças. 

Apesar dos inconvenientes e da forte concorrência, o coito interrompido continua a ser um sucesso de vendas sem o ser. Oferece a solução low-tech e low-cost para momentos em que a necessidade se sobrepõe à racionalidade, mesmo pondo em causa os princípios básicos da prevenção. Mas desde o tempo de Onan que as pessoas tomam decisões irracionais a propósito do sexo. E isso parece que tão depressa não mudará. 

Publicado originalmente na revista Pública em Setembro de 2009

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