Todos
nós conhecemos pessoas que se queixam de não arranjar emprego, de não
ter sorte, de não encontrar o amor da sua vida, de nunca lhes acontecer
nada de especial ou que consideram a sua vida sentimental um
aborrecimento de morte. Estas e outras queixas frequentemente
encontram-se todas concentradas nas mesmas pessoas. Porém, também não é pouco
frequente encontrar quem, apesar de uma vida profissional
intensa e satisfatória e da posse de recursos económicos para
fazer o que bem entendem em casa, nos tempos livres ou nas férias, do
ponto de vista amoroso tudo é uma desgraça.
É
certo que nem todos conseguem ter o à-vontade para conhecer novas pessoas
e por vezes tem-se mesmo azar com aquelas que se vão conhecendo. O
mundo está cheio de pessoas indisponíveis, desequilibradas, inconstantes
ou pura e simplesmente chatas. Mas também se encontram em abundância as
que são interessantes, inteligentes, desimpedidas e cheias de talentos no quarto e na cozinha. Apenas há que encontrá-las, apesar de nem sempre o destino
permitir que ocorram esses encontros.
Mas
se isso é verdade, também o é que as tais pessoas que se queixam de
nunca encontrar a paixão da sua vida muitas vezes não se esforçam minimamente
para a encontrar. Ficam fechadas em casa a curtir as suas mágoas, não
saem com os amigos nem vão para locais onde há gente e onde os tais afortunados encontros podem ocorrer. Desse modo, certamente que será muito mais
difícil conhecer alguém especial e apaixonar-se. O que significa que,
mesmo para encontrar paixão, é necessário esforço e estar nos sítios
certos, que podem ser quaisquer uns. Em suma, é necessário andar por
aí. Quando menos se espera, no ginásio, na praia, na discoteca, no curso
de computadores ou de Arraiolos, no centro comercial ou no comboio,
tudo pode acontecer.
Mas nem sempre apenas isso basta. O princípio
básico de qualquer vendedor aqui também é verdade: quanto melhor a
técnica, melhor a venda. E se o produto que se quer vender é o próprio,
então há que utilizar todos os recursos disponíveis. É
certo que a aparência não é tudo e que, mais do que ser-se bonito por
fora, é importante ser-se bonito por dentro. Mas, dito isto, também há
que reconhecer que a primeira impressão é muito importante e pode
determinar a ocorrência de uma chispa das que pode fazer fogo.
Afirmar-se que se é feio também não é desculpa. Certo é que o dom
da beleza não é concedido pela magia de uma fada madrinha, mas há sempre formas de contornar o que uma natureza madrasta nos concedeu com uns pozinhos de perlimpimpim. Os
italianos são disso um ótimo exemplo e andar nas ruas de qualquer
cidade italiana é sempre um banho de vista, mesmo quando os observados
não são particularmente bonitos.
O
resto é parte sorte, parte saber-fazer e parte de qualquer outra coisa
que lamento informar, ninguém sabe muito bem o que é. Não existem receitas
milagrosas para que as pessoas se conheçam e para que a paixão surja.
Mas, quando surge, aí sim acontece magia digna dos contos de fada e a de alguns romances eróticos também.
Originalmente publicado na revista Activa em 2005
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