domingo, 17 de janeiro de 2010

Intenções erectas

Muito antes de Masters e Johnson terem desenvolvido o seu famoso modelo da resposta sexual em quatro fases – excitação, plataforma, orgasmo e resolução – um outro senhor, de seu nome Havenlock Ellis, tinha já proposto um modelo bem mais simples. Resumia-se a duas fases: a tumescência e a detumescência. Assim esse senhor Inglês sintetizou a parte mais visível do que acontece no corpo humano quando sexualmente espicaçado. On ou off. Sim ou não. Para cima ou para baixo. Nada mais simples.

De facto, não há nada como uma boa erecção. Dá nas vistas, enche o olho e é sinal indiscutível de que se está pronto para a acção. Além disso, não apenas pénis tumescem. Clítoris e mamilos seguem-lhe o exemplo. Quando entusiasmados apontam o caminho a seguir: sempre em frente. Ou às vezes um bocadinho para baixo.

Também as vontades e os desejos são erécteis, mas esses não nos interessam aqui agora. Interessa sim que as erecções diversas de que o nosso corpo é capaz são uma das dádivas da natureza para o ser humano. Tornam óbvio o que sem elas poderia não o ser. Sem dizer palavra, gritam mensagens de indiscutível importância. Como que se está pronto para uma qualquer frenética actividade sexual. Sem mais.

Por vezes conseguem ser inconvenientes. Que o digam rapazes adolescentes que a qualquer solavanco do autocarro, e mesmo sem rapariguinha apetecível por perto, lá ficam a apontar para o infinito, por vezes de forma óbvia para os restantes transeuntes. É nessas ocasiões que um casaco comprido ou umas calças largueironas são o melhor amigo de um homem.

São inconvenientes também na praia, em que a abundância de corpos expostos favorece o pensamento libidinoso, com consequências óbvias e salientes por debaixo de curtos pedaços de Lycra. E são-no ainda para as senhoras que saem à rua sem soutien e que, por vezes, quase rasgam dois buraquitos na frente da sua justa camisola ou t-shirt. A culpa, claro, é sempre do frio, mesmo quando em pleno Verão.

Mulher conhecedora das potencialidades dos mamilos frescos, Marlene Dietrich colocava duas pérolas junto dos seus para os fazer parecer mais salientes. Um pequeno truque que decerto cumpria com os objectivos da diva. Os Romanos Antigos, por sua vez, utilizavam representações de pénis erectos ao pescoço como amuletos contra o mau-olhado e, quem sabe, contra o mau sexo também.

Mesmo que saibamos que tudo não passa de um efeito fisiológico banalíssimo, o da confluência de sangue para zonas estratégicas do corpo em momentos especiais, o fascínio pela erectilidade humana não tem fim. É que as tumescências contêm um certo quê de magia, semelhante à que brinquedos eléctricos tinham na nossa infância. E assim, mesmo como adultos, desde que se carreguem nos botões certos, todos podemos continuar a brincar.

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