domingo, 3 de janeiro de 2010

Pecados e outras coisas pecaminosas

O nome deste meu novo blogue provocou algumas reacções interessantes. Tudo por causa da expressão “coisas pecaminosas”. Começo por esclarecer que não, não sou católico de forma alguma. Sou ateu de gema e sem vergonha. Também não considero o sexo como uma coisa pecaminosa. Penso que existem muitos motivos para não praticar sexo em situações específicas, mas nenhuma delas se refere à possibilidade de ir parar ao Inferno.



Apesar disso, a noção de pecado encontra-se tão enraizada na nossa cultura que é impossível passar-lhe ao lado. Penso, aliás, que ela nos dá imenso jeito. Ajuda-nos a perceber, sem perder muito tempo, quais são as coisas que nos dão prazer mas que devíamos evitar se realmente quiséssemos. Por algum motivo gula, inveja, preguiça, ira e as restantes, abundam neste nosso mundo.


Mas a luxúria é, sem dúvida, o pecado mais interessante e aquele que aqui mais nos interessa. Tem, porém, um problema: exactamente a que se refere tal pecado? A querer ter sexo? A gostar de ter sexo? A querer praticá-lo muitas vezes? A ter prazer com ele? É difícil perceber. E, por exemplo, as actividades sexuais que não envolvem os genitais, como por exemplo algumas práticas sadomasoquistas, continuam a ser pecado? E o sexo oral, que para algumas pessoas não é sexo, é pecado? E então um beijo de língua, assim, mais prolongado, também o é?


A ambiguidade inerente ao conceito de luxúria deixa-nos sem saber muito bem quando é que, aos olhos da Igreja Católica Apostólica Romana, estamos a incorrer na possibilidade de ir parar à tal estância muito bem aquecida e com gente que se portou mal durante a vida e que por lá se porta ainda pior.


Como a Igreja não pode opor-se ao sexo em si – sem ele não nos podemos multiplicar – fica essa ideia vaga de que tudo o que queiramos fazer e que envolva pessoas mais ou menos despidas e a brincar com as suas partes pudibundas é pecado.


E verdade é que essa noção do fruto proibido tem uma consequência. Há uma excitação acrescida quando pensamos estar a fazer uma coisa que não devíamos. A maçã do vizinho parece sempre mais vermelha e apetitosa do que a outra macilenta que temos na nossa cesta da fruta.


O pecado acaba por ser um ingrediente que torna mais excitante essa coisa já em si excitante do sexo. Por isso as pessoas continuam a ter relações sexuais sem usar preservativo, mesmo quando sabem estar em situações de risco. Por isso alguns homens gostam de vestir roupa interior feminina. Por isso também, muitas pessoas dão a clássica facada no casamento.


Não é por ser pecado. É por de alguma forma essas serem práticas não convencionais e que se encontram à margem de um certo padrão de normalidade, mais social do que estatístico. E que por esse motivo se tornam mais apetecíveis. É aí que mora o pecado de hoje.


Longe de indesejável, o pecado, essa noção do proibido-apetecido, é um condimento agridoce que utilizamos para dar algum sabor às nossas vidas. Perdeu o cheiro a enxofre que já teve em tempos e serve agora para dar um ar maroto aos nomes de iogurtes e de blogues. Entre outras coisas.

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