terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Natal assexual?



O Natal não é uma época do ano que, regra geral, se associe ao sexo. Afinal, a celebração da época natalícia refere-se a um nascimento ocorrido há anos suficientes para que seja plausível, ainda que remotamente, que o mesmo tenha resultado de um acto de procriação assexuado. De resto, em épocas bíblicas aconteciam coisas tão bizarras quanto mares que se abriam para dar caminho a fugitivos no deserto, pessoas que se transformavam em sal por olharem para trás e rios que se tingiam de sangue. E mais, sem que ninguém achasse nada disso fora do normal.

Ainda que as semelhanças entre a Virgem Maria, as amibas e as laranjas da Bahia sejam fascinantes, não deixa de ser interessante olhar para trás, esperando não nos transformar em estátuas de sal, e descobrir que algumas práticas natalícias têm na verdade origens bastante pagãs.

Em Roma Antiga, entre os dias 17 e 24 de Dezembro festejava-se a Saturnalia, um festival dedicado ao deus Saturno. Era uma época em que se sacrificavam animais, se trocavam presentes e se comia à grande e à Romana. Celebrando o solstício de Inverno e em preparação para a abundância que se esperava na Primavera, os famosos bacanais eram parte integrante do programa das festas.

Nos países anglo-saxónicos existe a tradição de pendurar ramos de visco no tecto durante a época natalícia. As pessoas que se encontrarem por baixo desse ramo terão que se beijar. Tal costume, que certamente fará muita gente andar de cabeça erguida em festas de Natal, umas para evitar serem apanhadas desprevenidas lá debaixo, outras para apanhar a pessoa certa no mesmo local, também tem as suas origens pagãs. Freya, a Deusa Nórdica do amor, terá colocado visco entre o céu e a terra e beijado todas as pessoas que por lá passassem, em gratidão pela ressurreição do seu filho.

Por sua vez o azevinho, mais comum decoração de Natal no nosso cantinho do mundo, ostenta as cores típicas da época, verde e vermelho, que por sua vez simbolizam o masculino e o feminino, com referências indirectas à fertilidade.

Apesar de poder continuar por aqui fora, nomeadamente com referências ao simbolismo das árvores erectas por essas ruas e casas fora, arriscando chocar mentes mais sensíveis e destruir para sempre a ideia da inocência do Natal, não o vou fazer.

Nestas épocas festivas, em que desesperamos sobre o que comprar para familiares, amigos e colegas, até a exaustão entretidos em jantares e festas de Natal, corremos o risco de ficar um pouco assexuais. Nem que seja porque as nossas energias estão concentradas noutras actividades.

Natal e sexo, porém, não têm de estar de costas voltadas, como de acordo com as suas influências milenares, nunca estiveram. O sexo é, afinal, uma celebração da vida. Como cantava o outro, vamos então todos sonhar com um Natal branco.

Publicado na revista Pública de 26/11/2010

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