sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

2012 Odisseia sexual




De acordo com a socióloga e activista norte-americana Gayle Rubin, apenas uma prática sexual foi inventada no século XX. E mesmo essa já na ida década de 1930 – o eroticismo braquiopróctico (também conhecido como fisting ou fist fucking, a inserção do punho e parte do braço no ânus). Tudo o resto já tinha sido descrito, e certamente praticado, por gente extravagante como Sade, Sacher-Mashoch, para não falar dos loucos Romanos antigos.

Talvez para choque de muitos, o sexo efectivamente não mudou muito em milhares de anos. Toda a gente continua a fornicar como sempre fornicou, mais orgasmo menos orgasmo, mais orifício menos orifício.

Assim sendo, o que podemos esperar que mude em cinco anos? Se é improvável que se inventem novas práticas, o que poderá mudar são os contextos associados ao sexo. E aí não devemos menosprezar o impacto da tecnologia. De facto, algo que os Romanos antigos não faziam era marcar encontros com estranhos através da Internet. O célebre Marquês nunca terá sido confrontado com uma parceira que lhe tenha pedido os resultados do seu último teste para o VIH. E, por muito que algumas raparigas possam ter tentado, é improvável que tenham conseguido provar para lá de qualquer dúvida que Giacomo Casanova era o pai do seu bebé.

Então que novas tecnologias poderão estar disponíveis em cinco anos? Face à incerteza de que a miraculosa vacina para o VIH venha a surgir, mais provável é que outras estratégias preventivas sejam disponibilizadas. Algumas das que se encontram em ensaios clínicos são a profilaxia pré-exposição ou PPrE e os microbicidas. A PPrE é uma espécie de pílula contraceptiva, mas aplicada à prevenção do VIH. Poderá ser utilizada por quem pensa estar frequentemente em risco de contrair o VIH e será tomada de forma mais ou menos contínua para prevenir a infecção.

O problema é que a sua eficácia será, na melhor das hipóteses, de cerca de 70% e a comunidade científica já está em alvoroço perante a possibilidade das pessoas começarem a fazer amor, por assim dizer, descontroladamente. Os microbicidas levantam questões semelhantes. Tratam-se de géis ou espumas que se colocam na vagina ou ânus e que criam uma barreira química que destrói o vírus durante uma relação sexual desprotegida.

É também possível que em breve os testes caseiros para o VIH surjam à venda nas farmácias. Mesmo que contra-indicado, é provável que muita gente os utilize para avaliar, no último minuto, se irão ou não ter sexo desprotegido com o parceiro que acabaram de conhecer na Internet ou noutro canto obscuro qualquer.

Muitos mais brinquedos decerto nos ajudarão a ter uma vida sexual mais feliz, segura e, espera-se, satisfatória. Muitos desses levantarão novas questões, morais e moralistas, sociais e sociológicas. Mas tal como o sexo, essa é outra realidade que não se alterou ao longo dos milénios. 

Artigo futurista publicado na revista Pública dedicada ao ano de 2012 em 28/12/2008

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