Mais cedo ou mais tarde, as máquinas acabariam por
se virar contra nós. Do "Exterminador Implacável" ao "Matrix", passando pelo "Eu, Robot", há já muito tempo
que a ficção científica nos alertava para essa possibilidade. Nós, distraídos,
sempre achamos que esse cenário estaria ainda muito longe. Talvez nunca esperássemos
que o monstro por detrás da máquina fossemos nós próprios e não um mega-computador
com consciência própria.
Basta uma breve pesquisa na Internet para encontrar variadissimas ferramentas
onde supostamente será possível verificar com uma probabilidade de erro
de apenas alguns metros, onde se encontra a nossa cara-metade. Como cada vez
mais pessoas hoje em dia carregam no bolso um
aparelhinho localizável desde que se tenha a tecnologia certa muita gente estará, mesmo sem disso
ter consciência, a ser vigiada pelo seu controlador e patologicamente ciumento mais-que-tudo.
Independentemente de tais sítios funcionarem ou não, facto é que a tecnologia para fazer esse tipo de vigilância existe e não se
limita aos satélites. Funções como recibos de SMS e depósito directo de
mensagens, para não falar de câmaras instaladas em computadores e telemóveis,
são novas armas ao dispor do Big Brother em cada um de nós. Quem disse que quem
ama confia? As evidências parecem demonstrar que quem ama desconfia. E muito.
Um amigo de Melbourne, na Austrália, confessava-me
recentemente estar farto do controlo excessivo da sua namorada que vive em
Praga, na República Checa. Ela liga-lhe constantemente para saber onde ele está,
com quem está e o que está a fazer. Têm tido grandes discussões através de Messenger porque ela suspeita que nos
momentos em que ele não esta online certamente estará com outra(s). Se a
distancia brutal que os separa (cerca de 16.000 km) poderá espicaçar as
inseguranças da pequena, não deixa de ser curioso que a mesma tecnologia que
permite a manutenção do improvável romance entre os dois, é a mesma que está a
tornar a sua relação insustentável.
Pois é. O futuro previsto pelos génios da fantasia
e da ficção está aí a bater-nos à porta. O Big Brother está a observar-nos e
tem um rosto muito familiar. Detectives privados e o pouco nobre hábito de
vasculhar as papeladas e os bolsos da companheira ou companheiro apenas para descobrir aquilo
que se preferia não saber, são velhas realidades. A Internet e todas as novas
tecnologias de comunicação apenas fornecem formas mais sofisticadas para fazer
exactamente o mesmo de forma mais eficaz.
É que o ciberespaço à semelhança do
nosso planeta encontra-se povoado por pessoas, não por robots. Por esse motivo,
o que lá se encontra são muitas vezes extensões virtuais do monstro que vive na casa ao lado
ou que dorme na nossa cama.
Publicado na revista Pública em Setembro de 2008
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